Segue um texto informativo sobre o etnocentrismo, visão preconceituosa que muitas pessoas ainda demonstram ao menosprezar a cultura alheia.
Se a cultura no que tange aos valores e
visões de mundo é fundamental para nossa constituição enquanto indivíduos
(servindo-nos como parâmetro para nosso comportamento moral, por exemplo),
limitar-se a ela, desconhecendo ou depreciando as demais culturas de povos ou
grupos dos quais não fazemos parte, pode nos levar a uma visão estreita das
dimensões da vida humana. O etnocentrismo, dessa forma, trata-se de uma visão
que toma a cultura do outro (alheia ao observador) como algo menor, sem valor,
errado, primitivo. Ou seja, a visão etnocêntrica desconsidera a lógica de
funcionamento de outra cultura, limitando-se à visão que possui como referência
cultural. A herança cultural que recebemos de nossos pais e antepassados
contribui para isso, pois nos condiciona ao mesmo tempo em que nos educa.
O etnocentrismo trata-se de uma
avaliação pautada em juízos de valor daquilo que é considerado diferente. Por
exemplo, enquanto alguns animais como escorpiões e cães não fazem parte da
cultura alimentar do brasileiro, em alguns países asiáticos estes animais são
preparados como alimentos, sendo vendidos na rua da mesma forma como estamos
habituados aqui a comer um pastel ou pipocas. Assim, o que aqui é exótico, lá
não necessariamente o é. Outro exemplo, para além da comida, é a vestimenta,
pois, tomando como base o costume do homem urbano de qualquer grande centro
brasileiro, certamente a pouca vestimenta dos índios e as roupas típicas dos
escoceses – o chamado kilt – são vistas com estranheza. Da mesma forma, um
estrangeiro, ao chegar ao Brasil, vindo de um país qualquer com muita
formalidade e impessoalidade no trato, pode, ao ser recepcionado, estranhar a
cordialidade e a simpatia com que possivelmente será tratado, mesmo sem ser
conhecido.
Esses são apenas alguns dentre tantos
outros exemplos que ilustram as diferenças culturais nos mais diversos
aspectos. O ponto alto da questão não está apenas em se constatar as
diferenças, mas sim em aprender a lidar com elas. Dessa forma, no momento de um
choque cultural entre os indivíduos, pode-se dizer que cada um considera sua
cultura como mais sofisticada do que as culturas dos demais. Aliás, esta foi a
lógica que norteou as ações de estratégia geopolítica das nações dentre as
quais nasceu o capitalismo como modo de produção. Esses países consideravam a
ampliação da produção em escala e o desenvolvimento do comércio, da ciência e,
dessa forma, a adoção do modo de vida do europeu como “homem civilizado”,
fatores necessários e urgentes. Logo, caberia a este último a função de
civilizar o mundo, argumento pelo qual se defendeu o neocolonialismo como forma
de dominação de regiões como a África.
Tomar conhecimento do outro sem aceitar
sua lógica de pensamento e de seus hábitos acaba por gerar uma visão
etnocêntrica e preconceituosa, o que pode até mesmo se desdobrar em conflitos
diretos. O etnocentrismo está, certamente, entre as principais causas da
intolerância internacional e da xenofobia (preconceito contra estrangeiros ou
pessoas oriundas de outras origens). Basta pensarmos nas relações entre
norte-americanos e latinos (principalmente mexicanos) imigrantes, entre
franceses e os povos vindos do norte do continente africano que buscam
residência neste país, apenas como exemplos. A visão etnocêntrica caminha na
contramão do processo de integração global decorrente da modernização dos meios
de comunicação como a internet, pois é sinônimo de estranheza e de falta de
tolerância.
Por: Ana Isabella Nascimento
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