Elas temem que islamitas derrubem direitos adquiridos na era Mubarak.País vai às urnas em 1º turno para escolher presidente em votação histórica.
A notícia aborda a participação das mulheres nas decisões
políticas, as quais estão lutando por 50% de representação no Parlamento. Ao
mesmo tempo, ressalta a questão da intolerância de muitos homens islamistas
que, apesar de lutarem pela democracia, são a favor do retrocesso da liberdade
feminina, através da aprovação de leis islâmicas que comprometam a dignidade e
os direitos civis das mulheres.
24/05/2012 06h19 - Atualizado em 24/05/2012 às 12h50
Para a grande maioria dos egípcios, a derrubada do ditador Hosni
Mubarak abriu grandes possibilidades para a construção de uma nova ordem
social, mais adequada às demandas de grupos sociais politicamente
marginalizados. Ao mesmo tempo, não são poucos os que acreditam que a
janela aberta pela queda do presidente parece estar indo no caminho
oposto àquele em que muitos dos mais árduos revolucionários acreditavam.
Em meio a debates em torno da proibição do direito das mulheres pedirem
divórcio, da proibição de elas saírem de casa desacompanhadas de um
homem ou da legalização da mutilação genital feminina, são compreensíveis
o medo e a preocupação das feministas no Egito, em meio à primeira
eleição presidencial do período pós-Mubarak, cujo o primeiro turno termina nessa quinta-feira (24).
Num ambiente único para se expressarem socialmente, as mulheres do país
se encontram presas no dilema entre o apoio às antigas garantias da
ordem pré-revolucionária e as incertezas e esperanças do Egito pós-Mubarak.
Um 8 de Março para esquecer
Era para ser um dia memorável. Menos de um mês depois da queda de Mubarak, em 11 de fevereiro de 2011, o Dia Internacional da Mulher, no 8 de março, seria a primeira vez que aquela geração comemoraria sua data nas ruas. A última manifestação pública feminista no Cairo havia ocorrido quase 100 anos antes, em 1919.
A marcha, que aglutinava algumas centenas de pessoas, talvez até mil,
continha algumas distorções. Além de uma quantidade grande de
estrangeiros, a marcha tinha mais homens que mulheres, e muitos
jornalistas. Caminhando pelas ruas do Cairo, muitas vezes sob
insultos dos homens que com ela se deparavam, a marcha foi até o final
de seu trajeto, na Praça Tahir, onde se tornou uma verdadeira cena de
barbárie.
Mulheres se concentram para a
manifestação do seu dia, em 8 de março, no Cairo (Foto: Aldo Sauda/G1)
Ao chegar à emblemática praça, símbolo da revolta contra Mubarak, enquanto a manifestação se esvaziava, um grupo de homens crescentemente descontentes com o desenrolar dos eventos começou a cercar as mulheres e debater de forma calorosa com elas. Sob o argumento de que a manifestação atacava a família, desejava retirar os véus de suas mães e abandonar as crianças, os homens, que agora cercavam as mulheres, pareciam cada vez mais violentos. Quando um xeque islâmico se aproximou da discussão e declarou a manifestação um pecado, foi dada a luz verde para o ataque.
No meio da Praça Tahir, então simbolo da recém-conquistada liberdade
nacional, em plena luz do dia na data marcada para comemorar as lutas
sociais das mulheres, dezenas de homens atacaram fisicamente as
manifestantes feministas.
Não houve estupro, porém todas as mulheres foram apalpadas por grupos
de homens que tentaram despi-las. Enquanto as ativistas e alguns homens
simpáticos à causa batalhavam no centro da cidade contra os agressores, o
Exército e a polícia apenas assistiam, à distância, às cenas de horror.
“Foi a primeira marcha feminista em muito tempo, sabíamos dos riscos
que corríamos”, disse May Kamalya, uma jovem revolucionária de 25 anos.
“Porém, obviamente, quando diversos homens pegaram no meu corpo inteiro,
tentando tirar minha roupa, a sensação foi de derrota.”
Passado um ano do desastroso 8 de março de 2011, a manifestação
ocorrida no ano seguinte foi caracterizada pelas organizadoras com um
evento vitorioso. Em uma marcha muito maior que a do ano passado,
contando com cerca de 5 mil ativistas, a manifestação, em vez de parar
na Praça Tahir, terminou diante do Parlamento. Com uma presença feminina
egípcia muito mais acentuada, a marcha possuía enquanto principal
objetivo revindicar que a constituinte egípcia tivesse, no minimo, 50%
de mulheres em sua elaboração.
“A ausência de mulheres no Parlamento já está sendo sentida por todos”,
disse Sally Zohney, que, ao lado de Mariam, participou ativamente na
organização do 8 de Março. “A ausência de mulheres implica que ninguém
está discutindo questões da saúde da mulher, de direitos de família e
diversas outras coisas."
Dirigente da Baheya, uma organização feminista surgida no inicio deste
ano, Sally tem mobilizado o movimento para a disputa da Assembleia
Constituinte, que será selecionada pelo Parlamento.
“Quando inicialmente falamos em uma assembleia composta por 50% de
mulheres, praticamente todos acharam a questão uma loucura. Lentamente
fomos nos inserindo na mídia e nos espaços públicos com nossas
discussões, e hoje, por mais a questão esteja longe de ser
consensual, ela está presente em todos os debates.”
Mulheres fazem fila para votar
nesta quarta-feira (23) no Cairo (Foto: AFP)
Fé revolucionária
Ao contrário de muitas de suas companheiras, Sally é profundamente
otimista com relação ao futuro das mulheres no Egito. “Há uma revolução
nas ruas, com capacidade de barrar qualquer ataque aos direitos das
mulheres”, disse.
Mesmo frente a possíveis retrocessos históricos, como a abolição da lei
que permite a mutilação genital das mulheres (chamada pelos islamistas
como “circuncisão feminina”), Sally insiste em apontar para o enorme
processo de transformação social, fruto do engajamento popular na
política.
“Antes, durante os anos de Suzanne, ninguém discutia a questão do
feminismo, dos direitos das mulheres. Hoje, o debate, a transformação da
mentalidade, está aí. Esse processo é mais forte e poderoso que
qualquer governo islamita, que certamente não conseguirá se impor sobre
mulheres radicalizadas e politicamente organizadas” disse.
Para ler a notícia completa, acesse: http://g1.globo.com/revolta-arabe/noticia/2012/05/entre-ordem-e-revolucao-mulheres-buscam-um-novo-espaco-no-egito.html
Por: Mariana, nº20
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